A alimentação mediterrânica é considerada uma das mais saudáveis do mundo, como mostra o facto dos habitantes da Europa do Sul terem a mais baixa mortalidade por doenças cardíacas da Europa. O seu extraordinário valor foi realçado pela primeira vez por Ancel Keys, um investigador de Universidade de Minnesota, que observou uma estreita relação entre o consumo de gorduras e a incidência de doença coronária em diversos países, sendo esta tanto maior quanto mais elevado fosse o consumo de gordura. A excepção verificou-se apenas nos povos da bacia do Mediterrâneo que, apesar de terem um elevado consumo de gordura, sofriam relativamente poucos enfartes do miocárdio. Havia sobretudo uma grande diferença no tipo de gordura consumida que, no Mediterrâneo, era sobretudo gordura insaturada (azeite).
Esta dieta é rica em vegetais e fruta, pão de trigo ou outros cereais pouco refinados, azeite e peixe, sendo pobre em gorduras saturadas e rica em gordura monoinsaturada (azeite), ácidos gordos ómega 3 (peixe) e fibra alimentar.
Os povos do Mediterrâneo consomem vinho tinto, em quantidades moderadas, às refeições, ao contrário dos povos do Mar do Norte e da Europa Oriental, que bebem quantidades intoxicantes de cerveja e bebidas espirituosas aos fins-de-semana. O azeite, rico em ácido gordo monoinsaturado, reduz os níveis de colesterol e, apesar das calorias extra que implicam a ingestão de todas as gorduras, não parece estar associado a excesso de peso e obesidade. O melhor azeite é o virgem extra, assim chamado por ser obtido pela primeira extracção/prensagem mecânica a frio a que são submetidas as azeitonas. A cor verde escura que apresenta é devida à riqueza em antioxidantes, que se perdem parcialmente nos processos de refinação, branqueamento ou de obtenção do azeite por métodos de aquecimento.
Os flavonóides do vinho tinto com a sua poderosa acção antioxidante também contribuem para a melhor saúde cardiovascular. É evidente que parte dos benefícios atribuídos a esta alimentação são também certamente devidos a outros factores, como o menor uso do automóvel, mais deslocações a pé, o que leva a maior actividade física, bem como à atmosfera social mais descontraída
que caracteriza a vida dos povos mediterrânicos, pelo que se poderá falar, antes, com toda a propriedade em cultura mediterrânica.
O que está a acontecer, hoje em dia, é que a dieta mediterrânica é celebrada cada vez com maior entusiasmo nos estados Unidos e nos países do norte da europa, enquanto entrou em declínio nos países do Mediterrâneo, o que não podemos deixar de lamentar vivamente. daí os apelos dos especialistas para que a alimentação mediterrânica seja novamente adotada em Portugal, não só
como um ato de respeito pelo nosso património cultural, como por ser a opção inteligente e saudável.
Todo o esforço que foi feito em Portugal, nomeadamente o trabalho de sensibilização e pressão desenvolvido, junto da comunidade e dos poderes públicos, pela Fundação Portuguesa de cardiologia, foi coroado recentemente com a atribuição pela UNESCO de património imaterial da humanidade à dieta mediterrânica portuguesa.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
*este texto foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico*
Conteúdo disponível na Revista Factores de Risco da Sociedade Portuguesa de Cardiologia

Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
Downloads
Consulte os nossos guias para hábitos saudáveis: